quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Quinta-Feira da 34ª Semana do Tempo Comum - 26/11

Ap 18,1-2.21-23; 19,1-3.9a, Sl 99, Lc 21,20-28

E se inicia mais um dia, e, no aproximar-se de Sábado, último dia (efetivamente) do ano litúrgico, o tom nas leituras soa cada vez mais apocalíptico. Como diz o Pe. Jonas, a mensagem do Apocalipse não é de desgraça, mas de esperança. Hoje, talvez mais fortemente que em qualquer época da história, as oportunidades de dissipação e satisfação dos prazeres são tão grandes que nos cegam para o verdadeiro caráter deste mundo: ele é caduco. Existe, efetivamente (como já notou até o macumbeiro do Wolfgang Smith), uma contraposição essencial entre a dissipação e o foco no Único necessário. Efetivamente, saltar de um fato, pra outro fato, pra outro fato, sem focar em nada, nos faz alcançar somente a superfície das coisas criadas. Trabalhar sem concentração (e sem amor: sem amor, nada vale) também faz com que fiquemos na superfície. Ora, o homem não foi feito para a superficialidade, porque a superficialidade é contingente, ela se refere a algo que passa. É esse o grande perigo da dissipação, pois o homem se torna um "pródigo" intelectual, as coisas que passam pela sua mente são simplesmente consumidas, e ele caminha como um dragão faminto e furioso, a queimar e devorar todas as coisas, sem se atentar pra aquilo que elas são. Pelo contrário, todas as coisas são sustentadas na realidade, recebendo de Deus um ser participado, que as traz a existência. Todas elas estão ligadas por isso que as torna reais. Elas não tem o fundamento em si mesmas, mas apontam para Aquele que as sustenta. Sendo belas, refletem a beleza do artista, que as fez com perfeição conforme suas ideias eternas, e é a Ele que devemos chegar por meio da contemplação das criaturas. Não que as coisas sejam ruins, pelo contrário, elas são boas, e refletem a Bondade infinita Daquele que as fez. 
 No cotidiano, vale o mesmo. É fortíssima a nossa tendência à dissipação, mas quando nos concentramos, pedindo a graça de Deus, numa tarefa, ela (se for uma tarefa que conversa com nosso estado de vida e nosso dever associado) cria uma significação existencial pra nós. Meditamos nas pessoas beneficiadas por aquele nosso esforço, meditamos no verdadeiro combate espiritual, no "carregar a pequena cruz" que é esse esforço para nos unirmos a Cristo no trabalho cotidiano. Conseguimos, sob uma janela ofuscada, evidentemente, perceber o grande sentido daquela tarefa no todo de nossa vida, numa vida que deve se iluminar em seu sentido diante de Deus, que quer nos transformar em "outros Cristos". Amar o que se faz, perceber a graça de Deus agindo, é impossível se se fica na dissipação. Deste modo, a própria atitude de se dissipar é contrária à santificação na vida diária, e o é de modo muito radical. Ó Jesus, que essa verdade se entranhe em mim de tal forma que me gere repugnância o seu descumprir! Que eu jamais pense que é "ok" dar vazão à curiosidade no meio de um dia de trabalho! Tirar a mente de Deus pra focar na multiplicidade das criaturas? As criaturas que não são necessárias, que passam, que se corrompem? O Templo caiu, um dia até as "forças do universo" entrarão em colapso, mas o mesmo que conduz a história continuará a conduzindo, até que ela chegue ao seu termo. Aí, tudo que está aí passará, e valerá o nosso amor por Deus, o amor que praticamos, o zelo pelas coisas Dele, o perceber que tudo no mundo foi feito por Ele, o perceber que em cada homem, há, pela graça, um "outro Cristo" (pela fé) em potencial, que deve ser amado e servido. 

 Que, pela intercessão da Virgem, possamos nos concentrar na tarefa que fazemos, de modo a encaixar esta mesma tarefa, sob a luz da Graça, no sentido último da nossa vida, Deus mesmo. Essa tarefa pode ser qualquer: trabalhar, estudar, cuidar de pessoas... o importante é que a façamos com o coração em Deus e a mente focada na tarefa. Que possamos fugir da dissipação, ó Jesus, como Vossa Mãe, que viveu a vida inteira sem retirar do coração o Senhor dos Céus e da Terra. Louvado Seja Nosso Senhor, Jesus Cristo.


E tudo ruirá




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Batismo do Senhor - 09/01/2022

Is 42,1-4,6-7 Sl 28: " Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo" At 10, 34-38 Lc 3, 15-16,21-22 Começamos com uma leitura do pr...