Ap 14,14-19, Sl 95, Lc 21,5-11
A liturgia de hoje vêm nos lembrar de uma grande verdade de nossa fé: Jesus Cristo virá para julgar este mundo, que encontrará então o seu termo. A nossa tendência normal, dada a quantidade de estímulos e a quantidade de pessoas falando "coisas legais", é viver na multiplicidade dissipativa, buscando estímulos externos e dando vazão ou para a curiositas (o mais típico pra mim) ou para a busca desordenada de prazeres sensíveis (meu pavor de banho gelado nos últimos dias deve ligar o meu sinal de alerta pra isso também). Se a pessoa contesta a importância de tudo isso, se eleva até a questão do sentido da vida, da causa final pela qual fazemos os atos que fazemos. Isso nos leva (claro, se tivermos a consciência de pedir a Deus tal clareza, porque por nós mesmos não fazemos nada de bom) a uma vida mais digna, mais refletida, mais humana. Mas a coisa é que não para por aí. Não é que cada pessoa individualmente vá ser julgada pelos seus atos e acaba por aí. Ressuscitaremos na carne e Cristo julgará todos os homens e toda a história humana, depois de ocorrer tudo aquilo que está previsto. Todo mal-entendido será desfeito, toda injustiça, desvelada, todo falso virtuoso, desmerecido, todo homem injustiçado, reabilitado. Perceberemos o valor dos atos individuais, seu peso na história, suas consequências na salvação e na perdição de multidões. Tudo isso se dará depois que certos eventos acontecerem, eventos estes que ao mesmo tempo são sinal do fim e necessários para o mesmo fim, como a conversão dos judeus e a "abominação da desolação no lugar santo". O mais impressionante é perceber que isso não é uma metáfora ou qualquer coisa do gênero: a ressurreição da carne se dará, este juízo fantástico se dará, o mundo, tão sólido e tão perene, chegará ao seu fim, e Ele criará "novos céus e nova terra".
O mundo caminha para uma má direção, e é fácil se entristecer com o rumo tomado pelas pessoas em conjunto. Cada vez mais cresce o secularismo radical, e com ele seus frutos, como a perda do respeito pela dignidade da vida humana, a busca desordenada pelos prazeres, o ódio à religião e, em geral, uma ideia totalmente equivocada a respeito daquilo que é o verdadeiro sentido e norte da vida humana. Mas tudo está nos planos de Deus. Tudo é perpassado pela inteligência infinita do Ser Absoluto, de Deus, cujo Logos Eterno se encarnou para nos salvar e também para nos fazer perceber que o Senhor tira bem até do mal que Ele permite. Tudo está nos planos Dele, e tudo se encaixará no final, onde derrotados serão aqueles que escolheram o lado derrotado, e vitoriosos serão aqueles que viveram para Ele.
Me confessei hoje: antes ser um sem-vergonha cretino que se confessa do que um soberbo que quer se reerguer sozinho. Mais uma vez perdi tempo procrastinando, vendo coisas de artes marciais. Como nossa mente gira violentamente para o imanente quando a nossa força de vontade, amparada pela Graça, deixa de vigiar um pouco que seja! O velho adágio, "desconfiar de nós e confiar em Deus", é o melhor conselho possível. A guerra já está vencida. O Inimigo já está derrotado. O Vitorioso já se declarou, ali, no madeiro da cruz. Que lado vou escolher? O perdedor ou o vencedor? A dissipação ou o trabalho? A boca-sujisse auto-indulgente ou a polida gravidade de um homem de Deus, que sabe rir sem ser um crápula? A fuga constante da rotina ou a vivência insistente da mesma? A mentira (ou restrição verbal) pertinente ou a coragem de assumir e viver na verdade? O jeitinho brasileiro ou a honestidade implacável? A busca do prazer do banho quente ou o banho gelado, que é mais do que merecemos? Que eu possa, Senhor, com o auxílio de Vossa Graça, amparado neste Vosso poço infinito de misericórdia, ser humilde, perceber que não sei nada, que sou um verme inútil, e daí obedecer a Vossa voz, tão boa, tão amável, e nela me alegrar. Apenas no Vosso seguimento há alegria, as luzes suntuosas do mundo na verdade escondem trevas negríssimas. Que, pela intercessão da Virgem Maria, possamos nos encontrar do lado vencedor no Dies Irae.
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