At 5,17-26, Sl 33, Jo 3,16-21
Na primeira leitura, vemos os apóstolos sendo presos por mando dos Sumos Sacerdotes. Uma vez presos, o próprio anjo do Senhor os soltou, e eles voltaram a pregar no templo, deixando o povo extasiado. Os sumos sacerdotes ficaram embasbacados. Não se convenceram, obviamente, não abriram seus corações, não ouviram as palavras de 'vida eterna' ditas em Cristo pelo Espírito Santo por meio dos apóstolos.
O sumo sacerdote era o "sumo pontífice" da religião da antiga aliança. Ele era o único que poderia entrar no Santo dos Santos. Ele era aquele que fazia o papel de "ponte" entre o povo de Deus e o próprio Deus. Era uma posição de grande dignidade, mas é patente que o sumo sacerdote referido não estava a altura da dignidade daquilo que ele era. Fechado numa mera repetição e não aberto a Verdade que gritava a ele e que eles haviam crucificado, seu sacerdócio saiu de suas mãos e desapareceu. Não havia mais necessidade de sacrifícios de animais, o templo ficara obsoleto, pois o próprio Filho unigênito de Deus veio ao mundo, assumindo nossa natureza humana em tudo, exceto no pecado, de modo a oferecer-se a Deus num sacrifício no qual Ele era simultaneamente sacerdote e vítima. Aquele homem, aquele sumo sacerdote, aqueles sacerdotes, ofereciam bodes a Deus mas não ofereciam seus corações. Deus é Bondade, Deus é Verdade, como poderia ser sua glória aumentada pela mentira? Que cabeça tinham esses sacerdotes ao agir com tamanha desonestidade, buscando calar e não entender o que era dito pelos apóstolos? Os sacerdotes eram saduceus, que rejeitavam até mesmo os profetas e os salmos: como poderiam ouvir a Cristo? Não ouviram os profetas, não ouviram o próprio Deus: estavam apenas interessados em continuamente oferecer bichos em sacrifício a Deus, assim como faziam os pagãos, para garantir para eles e para todo o povo de Israel prosperidade, saúde e alegria terrena. O Senhor não habitava neles.
Nós, a princípio, ouvimos os profetas. Ouvimos, mais importante ainda, a Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ouvimos a Tradição, aquela que vem desde os apóstolos e dá um caminho seguro de como se deve viver de modo agradável a Cristo. Mas... em que sentidos vivemos isso que ouvimos? É muito fácil usar o próprio conhecimento de tudo isso, que é verdadeiro, para justificar atos maus e mesquinhos que, no frigir dos ovos, são atos que demonstram falta de caridade e até mesmo falta de amor a verdade! Quantos atos de nossa parte nos mostram que, como os sacerdotes da antiga aliança, apenas queremos uma "religião ideológica" para que possamos nela nos agarrar e anatemizar como inferiores, como culpados, como ímpios, todos os demais! Não estou aqui dizendo que todo pecado é fruto da ignorância, mas nem todo mundo que erra, erra de má fé. Alguns nunca ouviram a Revelação tal como ela é, e alguns estão tão presos em seus castelos que assumir como verdadeira a Revelação é doloroso demais. Infelizmente, esses escolhem o mau, esses pecam, mas muitas vezes eles escolhem o mal e o pecado por fraqueza, querendo, lá no fundo, mudar de vida. Como fazemos com essas pessoas? Estendemos a mão para ajuda-las a criar forças, ou as deixamos de lado? Sobre aqueles que defendem ideias erradas: mostramos caridosamente e profundamente, indo até as raízes mais profundas, o que é verdadeiro, ou simplesmente chamamos essas pessoas de burras para que aumentemos o nosso ego? Sobre aqueles que levantam indagações acerca de pontos que de fato são complicadíssimos: fingimos que é simples, dando uma explicação superficial com afetações de quem já meditou em todos os pormenores daquilo, ou de fato meditamos em todos os pormenores daquilo à luz da verdade conhecida?
Deus nos dê esse amor a Verdade e essa humildade, que é conhecer a verdade sobre nós mesmos, no final das contas. Ajudai-nos, ó Senhor, a fugir dessa nossa tendência de nos encastelarmos numa fortaleza segura, pois isso é testemunho de arrogância, de falta de caridade com o próximo e de, pasmem, desamor a Verdade. Não é que devemos contestar a Sagrada Escritura e a Tradição, isso nunca, mas fujamos de respostas simplificadoras e afetações de superioridade com relação a questões que, diferentemente do que dizem alguns, estão ainda em aberto. Que mal testemunho de amor a verdade dá um católico que, só por ter lido meia dúzia de textos de pessoas com muito mais embasamento, saem a pregar que o evolucionismo darwinista (não a filosofia e sim o suposto fato) é simplesmente um "mito" (sem aqui entrar no mérito da questão)! Que mal testemunho de amor a verdade dá um católico que simplesmente despreza como ímpias as questões de quem contesta a fé católica, sendo que, se essas questões fossem respondidas com profundidade e os postulados opostos, profundamente refutados, muitos poderiam vir a aceitar a verdadeira fé! Que mal testemunho de amor ao próximo dá aquele que usa a fé católica como um 'salvo-conduto de acerto', de modo que todos os que vivam diferente sejam considerados simplesmente como inferiores, e não como pessoas que, se tivessem tido as graças que Deus lhe deu, poderiam ser muito melhores que ela! Agradeçamos a Deus pelo dom da fé, rezemos por aqueles que se encontram no erro, amemos a verdade e busquemos esclarece-la cada vez para iluminar a mente daqueles que se encontram no erro, e sobretudo, sejamos humildes, reconhecendo que, sem o dom de Deus, nosso destino miserável seria indubitavelmente o Inferno, a Geena, onde o germe não morre e o fogo não se apaga.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo por tudo que Ele fez em nossa vida. Que possamos leva-Lo a toda a criatura, assim como os apóstolos que, aos saírem da prisão, voltaram imediatamente a prega-Lo publicamente no templo.
Anjo liberta os apóstolos da prisão
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