terça-feira, 28 de abril de 2020

Terça-Feira da Terceira Semana da Páscoa - 28/04

At 7,51-8,1a, Sl 30, Jo 6,30-35

No Evangelho de hoje, Jesus Cristo anuncia a Si mesmo como o pão do céu, o verdadeiro maná, que mata a fome e a sede que nós temos, essa sede de infinito, essa sede de sentido, essa sede de algo que nos eleve, que nos aprimore, que nos purifique, que nos santifique, enfim, que nos ensine a amar e que perdoe nossos pecados, de modo que os abandonemos. Aqui, Ele fala do seguimento Dele, do "vir" até Ele e "crer" Nele. O crer em Jesus, apesar de aparecer depois no texto, é prévio ao "ir" até Ele. Crer nele significa crer em tudo aquilo que Ele ensinou, que nos revela a face de Deus, um Deus amoroso que quer nos salvar e que deu seu Filho Único e amado para nossa salvação, nós, inimigos de Deus, que chafurdávamos no pecado! E como eu sei o que Cristo ensinou? Basta ler a Bíblia? Basta ler os Evangelhos? Não basta, porque a Sagrada Escritura em partes é doutrinal mas em partes é "literária", não no sentido de ser ficcional, mas no sentido de ser uma história contada, narrada. De uma história contada, da história de uma vida, ainda que seja a Vida de Deus feito carne, pode-se retirar inúmeras interpretações, interpretações essas que podem e provavelmente serão condicionadas pelo o que tem em nossa cabeça. Isso não vale pras afirmações "doutrinais" (ex: os anátemas de São Paulo, a condenação do adultério por parte de Cristo, etc), mas vale pra tudo aquilo que é narrativo. Como saber exatamente como era o culto divino apenas pela Sagrada Escritura? Isso, como deveria ser o cerne da própria vivência da fé ensinada pessoalmente pelos apóstolos (e depois pelos seus sucessores, os bispos), nem sequer é narrado na Sagrada Escritura. O conteúdo das epístolas paulinas, por exemplo, é essencialmente formativo, ele não fala do rito, de como se deve cultuar a Deus, porque quanto a isso aparentemente não haviam dúvidas. Mas como saber, de fato? Bom, aí é que está a coisa. O que está dito na Sagrada Escritura deve ser lido dentro de um certo espírito, que no final das contas é O Espírito Santo, que vivifica sua Igreja. E podemos saber como a fé era vivida por meio da tradição, que vem desde os apóstolos, ensinada e vivida na Igreja e, posteriormente, catalogada também em escritos. Também podemos conhecer nossa fé vendo aquilo que é o consenso de todos os primeiros escritores cristãos, que, diante de objeções, esclareciam e afirmavam pontos daquilo que Jesus havia ensinado e que havia passado através dos apóstolos. Além disso, há o magistério, "encarnação" dessa missão de "ide e ensinai" dada por Cristo aos apóstolos, que decidiu solenemente inúmeras vezes no que se deve crer e no que, por consequência, no que não se pode crer. Esse é o único critério seguro de se entender plenamente aquilo que está revelado na Sagrada Escritura, que é infalível, porém não contém tudo, não contém em si mesma a chave de sua interpretação. Isso porque a Sagrada Escritura é filha da Igreja e deve ser lida no espírito da mesma! A Escritura lida a luz da fé correta (leia o catecismo!) e em obediência a Santa Igreja nos leva a verdade, nos leva, justamente, a aquilo que Jesus ensinou, mostrando-nos a face de Deus, fazendo com que possamos conhece-Lo e ama-Lo.
A segunda parte do Evangelho fala de "ir até Ele". Isso pode-se entender de vários modos, mas, no contexto do Pão da Vida, título que Ele dá a si mesmo (porque de fato Ele o É), podemos pensar no contexto Eucarístico. Cristo está efetivamente, em toda sua grandeza, majestade, Divindade e humanidade, na sagrada Eucaristia. O conhecer a fé, o rezar e se colocar diante de Deus, enfim, o amor a Deus desenvolvido na oração, deve nos impelir a uma união mais íntima com Cristo, de modo a efetivamente toca-Lo, de modo a efetivamente nos encontrarmos com Ele fisicamente, adorando-O e recebendo-O como Pão da Vida, que nos vivifica, nos santifica, nos purifica e nos fortalece para que nossa fé já recebida, a semente que caiu na terra, não feneça, não desapareça por debaixo dos espinheiros que a cobrem e a impedem de sobreviver, pois a luz do sol não chega até ela. A oração na fé correta nos mostra a face de Deus, conhecendo a face de Deus, buscamos recebe-Lo fisicamente em nosso coração, e recebendo-O, nossa fé é vivificada e conseguimos vive-la em nosso dia a dia, em nossa circunstância, de um modo agradável a Deus se formos dóceis a Ele. A fé (crer) leva a Eucaristia (receber (a Ele)) e a oração (que mantém "vivos" os efeitos da Eucaristia) e essas duas vivificam a fé, fortalecem-na contra os erros do mundo e a iluminam, de modo que ela possa ser vivida em nossa vida de um modo mais condizente com a Vontade de Deus. De fé em fé, de ato de amor em ato de amor, podemos chegar um dia a ser santos, perante a ação do Espírito Santo que santifica, agindo em todos aqueles que buscam agradar a Deus, negando a si mesmos com sinceridade e sem reservas.

Que, de fé em fé, rezando e buscando os sacramentos, possamos crescer no cumprimento da Vontade de Deus de modo que, como Santo Estevão, possamos, no momento de nossa morte, estar plenamente configurados a Cristo. Ajuda-nos, Senhor, a vivermos de modo a vê-Lo, no fim de nossa vida, em Sua Glória, sentado a direita do Pai!

Entrego, por fim, minha vida ao Senhor por meio da Santíssima Virgem, obra prima da criação, superior a todos os santos por ter participado do Mistério de Cristo não na ordem da graça, mas da união hipostática. Maria formou o próprio Deus em seu ventre. Ajuda-nos, ó mãe, a gerar também Cristo em nossos corações. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!






Martírio de Santo Estevão

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