sexta-feira, 24 de abril de 2020

Sexta-Feira da Segunda Semana de Páscoa - 24/04

Estamos no tempo pascal, mas não há leituras o suficiente para que se leiam apenas trechos pós-ressurreição nos dias feriais. Estamos, então, andando pelo Evangelho de São João. E o episódio que é narrado no Evangelho de hoje é o da multiplicação dos pães e dos peixes. Nessa sexta-feira, que é um dia penitencial, mas nesse tempo, que é um tempo de festa, quero me colocar diante de Senhor para que ele me purifique, de modo que a penitência (leve, não nego) de hoje me faça perceber que só Nele há esperança e que tudo aquilo em mim que ainda não morreu e ressuscitou com Ele deve faze-lo.

O Evangelho de hoje mostra um pouco daquela que é a face de Jesus Cristo. Aquela multidão, homens e mulheres comuns, deixando suas casas e seu relativo conforto (nada comparado ao que temos hoje, mas melhor que a relva do campo) para seguir Jesus debaixo do sol quente. Estavam cansados, famintos e distantes de suas casas, de modo que, se voltassem, poderiam desmaiar de fome. E Jesus Cristo se apiedou delas. É uma tendência minha muito forte achar que Cristo não "liga" para nossos sofrimentos, que Ele está lá apenas para nos julgar se não o aceitarmos bem. Mas o Evangelho mostra que Cristo teve compaixão dos famintos, ele teve compaixão dos que sofrem. E por quê? Porque Ele viveu nessa nossa carne. Ele suou, Ele sentiu sua pele queimando sob o sol dos tórridos verões de sua terra, Ele sentiu sede quando se encontrou diante da samaritana, Ele sentiu fome no deserto, quando o Diabo apareceu para tenta-lo. E Ele, acima de tudo, sentiu fome, sede, cansaço e dor extremos no sofrimento da cruz, do calvário, onde não só o sofrimento físico se fazia presente, mas também o sofrimento espiritual. O pecado mata a alma e coloca o homem como inimigo de Deus, e, assim como Cristo tomou para si nossos pecados, Ele tomou pra si a dor de ser inimigo de Deus, fazendo-se um maldito de Deus para reconciliar os verdadeiros malditos, nós, com Ele. Cristo nos conhece, Ele sabe de nossas fraquezas, Ele se compadece de nós em nossas dúvidas e em nossos sofrimentos, e, se o seguirmos, se colocarmos o seguimento Dele acima do conformismo com nossa situação indigna, saindo de nosso desesperado conforto, Ele nos alimentará com o "pão cotidiano" de sua Verdade e de sua amor, e a Sua graça nos libertará pouco a pouco dessa condição de homem decaído, gerando em nós a própria vida Dele, gerando em nós a salvação. Daí, aprenderemos a viver com o sofrimento como Ele viveu, como entrega, como oblação, como sacrifício de aroma agradável a Deus.
A Eucaristia, o Pão da Vida, é onde Cristo por excelência dá esse "pão cotidiano" que nos alimenta no dia a dia. Ali Ele se dá a Si mesmo, tomando uma condição humildíssima para nosso bem. Ali está presente toda sua divindade e humanidade, contida na fragilidade daquele pedaço de pão, daquela gota de vinho. Ele se rebaixa para se doar a nós. E nós? Queremos sair por cima da carne seca? Ou tomaremos, como Ele e com Ele, a condição de servos, para que o amor de Cristo frutifique em nós?

Que hoje eu possa me lembrar de que Cristo viveu essa nossa vida, e que Ele se compadece de nós. Tenhamos coragem de colocar nossos fardos diante Dele, humildemente pedindo a graça de morrer com Ele e ressuscitar pra uma vida Nele. E, concomitantemente, com a graça do Senhor, vivamos as pequenas provações do dia a dia, enfim, tudo que concerne nossa circunstância, como ocasião para agir com base nessa semente que brota e gera uma árvore frutífera, semente de vida, semente da graça, semente de Cristo.E amemos a Eucaristia, Cristo vivo e humilde, que nos santifica e nos mostra que devemos nos fazer servos e pequenos assim com Ele os fez.

PS: Dica do dia: sempre que a Dani te repreender, lembre-se disso e aceite a repreensão com amor. Não aja, como é de praxe, de modo ou a se explicar, ou a desqualificar o dito, ou pior, a repreender de volta com algo supostamente pior para mostrar que é superior. Lembre-se disso.





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