At 4, 32-37 , Sl 92, Jo 3, 7b-15
No Evangelho de hoje, Jesus Cristo continua seu diálogo com Nicodemos. O "vento sopra onde quer e não se sabe pra onde vai nem de onde vem": com essa frase, Nosso Senhor explica como age o Espírito Santo nos fiéis. O homem que está em estado de graça e é dócil ao Espírito age de um modo misterioso aos olhos dos homens. A pessoa, antes má, antes egoísta, age com um amor e com um desprendimento que desconcerta, que surpreende. Como pode se dar tal mudança? O que pretende a pessoa com isso? Não se sabe de onde vem a mudança, não se sabe aonde ela quer chegar com essa negação de si mesma para a maior glória de Deus e pelo bem dos outros. O que impressiona mais ainda é que essa pessoa que nega a si mesma se torna, de algum modo, cada vez mais ela mesma, e isso é perceptível. Ninguém é mais "ele mesmo" do que os santos o foram. Tudo isso se dá pela ação do Espírito, que "sopra onde quer" e que "ninguém sabe de onde vem e pra onde vai".
Isso é muito patente na vida dos apóstolos e seguidores de Cristo no relato da primeira leitura, que é concernente ao livro dos Atos dos Apóstolos. Não havia ali cristianismo de meia tigela. Eles não "largaram o pecado e observaram os mandamentos" como o jovem rico. Eles 'venderam tudo o que tinham e deram aos pobres'. Eles, inspirados pelo Espírito, abandonaram tudo, tudo, tudo, e colocaram perante Deus: não esperando uma multiplicação dos bens materiais, mas justamente o contrário, se desapegaram deles, colocando toda sua esperança no Senhor. Não é isso loucura perante os homens? Foi assim, vendendo campos para libertar escravos, que ao fim do império Romano (do ocidente) a escravidão havia sido praticamente abolida, retornando apenas na Renascença!
É dito também que eles colocavam tudo diante dos apóstolos (como fez São Barnabé com seu campo), para que estes distribuíssem os bens de acordo com a necessidade de cada um. O "comunismo" (não-ateu, não imanentista, não ideológico, mas sim no sentido de "colocar tudo em comum por livre e espontânea vontade") só poderia mesmo existir num contexto de santidade como este! Que diferença vemos se compararmos isso com os donos das mega-comunidades eclesiais! São sujeitos que, usurpando pra si o título de "bispo", de "apóstolo" ou seja lá o que for, prometem recompensas materiais (nem é a salvação, é dinheiro! É quitação das dívidas!) a quem coloca dinheiro perante seus pés. O que se vê: famílias pobres, com esperanças de uma vida melhor (que, na mentalidade comum de hoje em dia, é sinal de benção: quão distante está isso do pensamento dos primeiros cristãos!), colocando o pouco dinheiro que tem nos pés de "pastores" multimilionários que, se ajudam algum pobre, o fazem por marketing).
A mensagem que fica, no final das contas, é que quem é movido pelo Espírito age de um modo incomum pra um ser humano. Não se entende "de onde ele vem" e pra "onde ele vai". A meta é a salvação eterna. Enquanto buscarmos justificativas "humanas", materiais, imanentistas, para nossos atos, enquanto não fizermos tudo em vista da nossa santificação, enquanto não fizermos tudo em vista do agrado de Deus, que "nos amou por primeiro", não estaremos vivendo uma vida digna de um Filho de Deus, morada do Espírito Santo. Que, no dia de hoje, eu possa olhar pra dentro de mim de modo a ordenar tudo o que tenho, todas as minhas potências, todas as minhas poucas virtudes, todos os meus bens materiais e minha própria vida, para a maior glória de Deus, para o bem do próximo, enfim, para amar mais a Deus.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário