quarta-feira, 13 de maio de 2020

Quarta-Feira da Quinta Semana da Páscoa - 13/05

At 15,1-6, Sl 121, Jo 15,1-8

 Hoje a liturgia diária nos brinda com dois textos interessantes. O da primeira leitura fala do porquê de ter sido convocado o chamado hoje de "Concílio de Jerusalém", enquanto o Evangelho fala da videira, que é Jesus, e dos ramos, que somos nós, ramos estes que só podem dar frutos se estiveram na videira e forem devidamente podados. Aqui há "material" mais do que suficiente para ruminar e roer por muito e muito tempo. Mas primeiro preciso rememorar, fazer uma anamnese de minha situação atual, para tentar responder algo que muito me aflige: porque sempre arrefece esse "fogo" que queima no meu coração quando eu faço tudo certo? A alguns dias, eu andava bem insatisfeito com minha condição: minha rotina estava bagunçada, minhas manhãs, que deveriam ser destinadas ao estudo de física, estavam atribuladas, minhas tardes, também destinadas pra física, estavam sonolentas e não raro eu me pegava caindo em distrações, de modo que, das quatro horas vespertinas destinadas a tal, eu não raro aproveitava meia hora apenas. A noite muitas vezes eu me "recompensava" pelo trabalho (mal) feito estudando filosofia de modo tão sonolento que mais parecia uma tortura. Passei, então, a meditar a Sagrada Escritura da manhã, e isso me ajudou, me aproximou de Deus de novo, pois, começando o dia meditando Sua Palavra, pude mais facilmente ordenar todo resto a Ele. Na teoria. Na práticas as coisas continuaram ruins: eu passei a rezar, mas a vida continuou bagunçada. Pude então, algumas semanas depois, inspirado por uma busca advinda da própria meditação da Sagrada Escritura, comungar e me confessar. Isso, unido a um firme propósito de deixar redes sociais pra um dia específico da semana + compromisso de estudar física a noite, deixando a manhã pra coisas mais cheias de sentido, colocou ordem e alegria no meu dia. Por uma semana, senti meu dia, não digo plenamente, mas satisfatoriamente, ordenado a Deus. Servir a Deus é alegria: senti-me alegre nesse tempo.

 Ora, já me sinto novamente entristecido e novamente o trabalho (de física) é um tremendo peso. A única coisa que adicionei na rotina é uma (tentativa) de missa diária na paróquia que está celebrando com a porta fechada, não trancada. É impressionante o fato de que isso, essa benção maravilhosa, essa graça espetacular que surge numa época onde ninguém pode assistir missa, seja uma pedra de tropeço pra mim! A três semanas atrás eu chorava porque não tinha missas, a um mês atrás eu meditava acerca do quanto eu dei pouco valor pras missas diárias aqui de São Carlos, e agora que eu posso finalmente assistir missa de novo, e mais, agora que eu posso finalmente assistir novamente missa praticamente todo dia, eu me pego relutando em acordar cedo, em estragar a rotina ou qualquer coisa do tipo. É uma rotinazinha versus o presenciar o Santo Sacrifício do Altar e receber o Sacratíssimo Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo! Que mesquinharia! Que tentação! O primeiro passo é perceber que, independentemente do que eu fizer, a missa é mais importante, a missa deveria ser o centro da minha vida, receber o Cristo deveria ser o centro gravitacional ao redor do qual orbitam todas as outras coisas. Esse é o primeiro pressuposto do qual eu devo partir: relembrando o Evangelho do dia, devemos permanecer unidos a videira, senão não produziremos fruto nenhum. Permanecemos unidos pela fé, o fruto é a caridade, caridade que parte do amor a Deus, que só pode se realizar se se anseia pela união com o Filho Eterno em todos os momentos da vida.

 Tomando como base livros como a Vida Intelectual de Sertillanges, se recomenda que a missa diária seja sempre a atividade primeira (cronologicamente) do dia. Buscarei, com a graça de Deus, buscar que seja assim todos os dias. Continuemos analisando a rotina, o ritmo de vida a luz do Evangelho.

 Na minha vida, existem cinco tipos de obrigações. As de higiene (em lato sensu), como comer, tomar banho, escovar os dentes e usar o banheiro ; as "sociais", como brincar e cuidar de minha filha, dar comida pra ela, me relacionar com minha esposa, etc ; as religiosas, como ir a missa de manhã, ler e meditar sobre a liturgia diária, rezar o terço, ler a sagrada escritura com minha esposa, etc ; as intelectuais, no caso, estudar latim, tomismo e coisas do tipo e, por fim, as laborais, que tem a ver com tudo que faço no doutorado e também coisas como lavar a louça. Duas coisas são factuais: as obrigações "religiosas" são as mais importantes porque se tratam do contato, da busca pela amizade com Aquele que é o fim último mesmo de todas as outras atividades. O resto é subordinado. Ademais, não faz bem um cumprimento de tudo pelo cumprimento de tudo, onde o homem não está presente em momento algum, onde ele sempre se agita pensando na próxima coisa que tem que fazer e nunca para para refletir acerca de sua vida. Uma vida que não é examinada não vale a pena ser vivida. Desse modo, entendendo que o tempo parece insuficiente, entendendo que parece que a vida se torna um atropelo, talvez seja caso de, além de organizar melhor o que eu tenho feito, excluir aquilo que não é necessário. Existe algo assim na minha rotina? Não é tudo necessário? O examinar a vida, o dizer pra si mesmo e para Deus o porque fazemos cada coisa, o viver uma vida orgânica, uma vida alegre, não uma vida atomizada composta por uma colcha de retalhos, é isso que devemos almejar, é isso que devemos buscar, é isso que é "natural". Como fazer isso? Meu Senhor, tudo o que farei agora é voltar meus olhos e meu coração a Vós, de modo que Vós, que Sois o Verbo Eterno, o Logos que tudo ordena, possa também ordenar minha vida. Quero ordenar minha vida conforme a Vossa ordem! Quero que tudo em minha vida seja para melhor servir a Vós! Ajuda-me, Senhor, a me manter na videira, dando fruto em Vós. Ajuda-me a aceitar com paciência Vossa poda e, sobretudo, ajuda-me a viver uma vida alegre, uma vida feliz, pois deveria ser feliz quem busca viver na sua amizade. Por que me entristeço com o bem? Porque sou tão acidioso? Tende misericórdia desse pobre homem, Senhor.

 Nossa Senhora de Fátima, que vieste ao mundo para pedir penitência e prever grandes desgraças nesse mundo descrente, rogai a Deus por nós, homens tão maus, co-responsáveis pela grande infidelidade, pela grande injustiça, pela grande maldade que há no mundo. Ajuda-me a ser bom, ó Santa Mãe. Trazei-me para mais perto de Deus. Ajuda-me a fazer "tudo quanto Ele vos disser". 

 Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, e Nossa Senhora de Fátima: ora pro nóbis.



Jesus a Videira verdadeira e nós os seus ramos! – Promessas de Vitória
Videira

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