domingo, 7 de junho de 2020

Domingo da Santíssima Trindade - 07/06/2020

 Êx 34,4b-6.8-9, Ct. Dn 3,52-56, 2Cor 13,11-13, Jo 3,16-18

 Hoje se celebra a festa do Domingo da Santíssima Trindade. Novamente me vejo aqui perdendo tempo a rodo rolando a barra da rede social, enchendo minha mente de informações vãs que não servem a propósito algum, a não ser que se chame "propósito" um embirutar-se com informações contraditórias que jogam as pessoas para lá e para cá. Ontem eu participei da Santa Missa junto com minha família toda, tendo em vista que minha esposa foi leitora. Isso foi muito significativo, pois foi exatamente no Domingo da Santíssima Trindade de 2019 que nasceu a Marie. Foi a única missa dominical que minha esposa perdeu desde de sua conversão, excluindo os períodos pós-quarentena, que colocaram ferrolhos nas portas de igrejas. Ora, naquele domingo em 2019 eu fui correndo para a missa das 08:30 enquanto a Dani ficou com sua mãe. Suas contrações ainda estavam ocorrendo de 10 em 10 minutos, ou seja, ainda não era trabalho de parto ativo. Já havíamos ido pra maternidade de madrugada, mas era cedo demais, então voltamos pra casa. Saí de casa 08:20 e coloquei todo meu empenho pra chegar lá de bicicleta o mais rápido possível. Cheguei, até onde me lembro, no Ato Penitencial. Assisti a missa com o coração dividido, rezando pra que desse tempo, pra que eu pudesse estar com a Dani no momento em que as contrações ficassem mais ritmadas. Comunguei, recebi o Corpo de Cristo, o Deus eterno que se fez homem, e sai correndo da Igreja no momento mesmo em que o padre desceu do presbitério. Voltei como doido na bicicleta. Chegando em casa, encontrei a Dani tendo contrações de 3 em 3 minutos. Era trabalho de parto ativo! Nosso grande amigo, o André, nos levou para a maternidade, onde, 3 horas depois, as 12:32 h, nasceu a Marie. Ontem a noite, um pouco menos de um ano depois, assistimos em família essa missa, uma missa que tinha como temática a "família" (não gosto e não concordo com essa coisa de colocar "temáticas" na missa que alterem sensivelmente o rito, mas ainda assim é algo significativo). Foi a primeira missa dominical que assistimos desde o fechamentos das igrejas em março, e foi justamente no mesmo dia litúrgico no qual, de um modo mais visível, nossa família deu mais um "passo" para a sua consolidação, o dia do nascimento da Marie. Em 2019, assisti a missa sozinho, agoniado, enquanto minha esposa se agoniava ainda mais com as dores do parto, que depois são de algum modo "atenuadas" pela felicidade por ter colocado uma criatura no mundo. Em 2020, assistimos essa mesma missa em família, uma missa "da família" e sendo essa a primeira, a primeiríssima missa dominical que assistimos presencialmente desde o início dessa loucura que estamos vivendo nos dias de hoje.

 Devemos sempre ler as "entrelinhas", captar a "forma" desses acontecimentos significativos que nos são transmitidos por fatos, pois Deus fala por fatos, não só por palavras. Ele nos diz que nossa família deve estar ancorada na Fé, e o núcleo da Fé é justamente a Santíssima Trindade, que se refere ao mistério de Deus enquanto Deus. É a Verdade mais sublime que conhecemos. Esse Deus trino, que cria, que redime e que santifica, é o único Deus, a quem devemos pedir perdão e pedir o acolhimento como propriedade Dele, como disse Moisés na primeira leitura. Crendo, devemos expressar essa fé, e a expressão magna desse expressar é a participação no Santo Sacrifício da Missa, comungando, se possível. Deus, Trino, nos amou, e nos amando, assumiu a nossa natureza e, usando-a como ferramenta, redimiu essa mesma natureza, pois, unindo o humano e o divino numa só pessoa, Jesus Cristo ama como homem, com seu Sagrado Coração, a Deus com todo amor que Ele merece receber de nós, que tudo recebemos Dele de graça. Cristo uniu o humano e o divino, e com a graça do Santo Espírito, que age pela graça e pelos Sacramentos, podemos nós também amar, não amar com um coração meramente humano, de "pedra", mas amar com um coração humano elevado ao nível do amor divino, amando como amou o Sagrado Coração. Esse amor nos eleva da miséria humana, de lamaçal no qual estamos afundados. Sem crer em Cristo, sem, pela fé, viver na caridade, não há salvação, já estamos perdidos. E essa salvação, essa percepção de que Cristo nos redimiu e nos ama, essa adequação da vontade convidada pela graça ao intelecto iluminado pela fé, nos leva ao amor ao próximo. Esse amor se manifesta pelo cuidado físico, pelo cuidado espiritual, mas também pelo revelar a verdade e viver segundo a verdade na caridade de modo a revelar o Cristo a todos os homens. Cristo se revela pela fé, mas seus frutos são de caridade. Pra revelar o Cristo inteiro, é necessário as duas coisas, a verdade e o amor, como diz São Paulo (não nesses termos!). 

 Enfim, dando um laço que amarre esse meu blablabla, concluo que a vida familiar, que se expande pra além dos domínios da família mesma, deve estar ancorado na verdadeira Fé, Fé cujo artigo mais sublimo é a Trindade, fé que se manifesta no culto público do Santo Sacrifício e que frutifica na caridade. Essa caridade é a 'alma' de uma família, que se salva pela caridade (que pressupõe a fé) e que manifesta o Cristo pela vivência da mesma fé e da mesma caridade. E essas coisas todas estão ancoradas na Trindade. As Divinas Pessoas se relacionam num contínuo intercâmbio de amor e doação. Que, hoje e sempre, possamos viver a vida familiar (e também pra além dela!) também num contínuo intercâmbio de amor, numa contínua entrega de um pelo outro e de outro pelo um, de modo que imitemos, pela graça, de modo diminuto, o Amor Infinito que é, de algum modo, a essência do próprio Deus. Que possamos ver na figura da Sagrada Família a nossa inspiração, sendo ela a realização mais perfeita numa família humana do Amor Intra-Trinitário. Que, de modo análogo, possamos ver nas santas famílias (ex: família de Sta. Teresinha) essa mesma luz. Ajuda-nos, Senhor, a ver pra além da crueza que nos é apresentada no mundo de hoje. Ajuda-nos a viver ancorados nessa "luz inacessível" que se tornou acessível de algum modo a nós, e que será o nosso júbilo final se permanecermos fiéis, a Trindade. Que o Vosso nome, Senhor, seja louvado para sempre.


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Santíssima Trindade, que Sois um Só Deus, tende piedade de nós

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