Eclo 48,1-15, Sl 96, Mt 6,7-15
A plena realização de nossa vida se dá no fazer, a todo momento, a vontade de Deus. As vezes, se abate sobre nós uma "preguiçosa preguiça", que nos faz desanimar de tudo que é árduo, buscando então dissipação em qualquer coisa que apareça pela frente. E essa própria dissipação entorpece a nossa alma e nos joga num estado de apatia, o que poderia ser suficiente para garantir a tal atividade uma pecha de "droga". Esse entorpecimento da mente e da alma leva o homem a "desanimar" de buscar aquilo que outrora era o motor mesmo de sua vida, e que é, no caso dos católicos (e, particularmente, no meu caso), o cumprimento pleno da vontade de Deus que nos impele a fazer o que for necessário para ser aquilo que devemos ser perante Ele. Esse é um perigoso ciclo vicioso que só se vence com um ato de violência, que bate de frente com esse confortável torpor que torna cinza, macia e tediosa uma vida que, por dever se uma vida de serviço a Deus, deveria ter contornos coloridos, pontiagudos, violentos e impressionantes.
A isso nos leva a leitura do Eclesiástico, que fala das façanhas do profeta Elias, tão grande quanto Moisés, um dos dois que apareceram a Cristo na Transfiguração. Foi uma vida de entrega a Deus. Ele não ficou, como disse São Jerônimo, a fazer "sacos de juta pra encher a barriga", e sim se entregou totalmente a Deus, batendo de frente com reis, ressuscitando mortos, alimentando paupérrimos e desqualificando Baal e seus sacerdotes. No fim, foi elevado a Deus num turbilhão de fogo. Que vida fantástica, que convite ao heroísmo de nossa parte! Muitas vez confundimos a "santidade nas pequenas coisas" como uma espécie de "acomodar-se". Até nas pequenas coisas, até nas circunstâncias banais de nossa vida, somos chamados a agir violentamente de acordo com a Vontade de Deus, com a graça que nos impele se nós deixarmos: uma vida banal assim ganha contornos impressionantes, pois a santidade é algo que eleva o homem pra além do patamar do "homem comum", do "homo vulgaris". O que queremos de nossa vida? Dados os talentos, enterra-los para viver uma vida vulgar, ou, em comunhão com Deus, multiplicar esses talentos por meio de uma vida doada? Entenda aqui que "doar" não é tomar dos outros suas tarefas por bondade, ao menos não só isso, é cumprir também escrupulosamente e amorosamente todos os passos necessários na direção de um melhor cumprimento da Vontade do Senhor. Fugir da rotina é um ato de desamor!
Mas, é bem óbvio que, por nós mesmos, não temos forças para fazer isso. O Evangelho de hoje mostra-nos Jesus, que nos ensina a rezar o Pai Nosso, a oração que sintetiza todas as demais orações ao Pai celestial. A oração é "conversa" com Deus, uma conversa de um escravo para com um Senhor, mas também de um amigo para outro amigo. Jesus Cristo nos eleva ao nível de "filhos" e "amigos" por participação no Eterno Amor e na Eterna Filiação. Se conversarmos com Deus, nossos caminhos ficarão cada vez mais claramente discernidos, e daí saberemos pra onde caminhar. Mas, para tal, nossa mente não pode se encontrar entorpecida pela scrollagem de wikipedias & redes sociais. É impressionante, mas essas coisas efetivamente embotam a mente e tornam impossível uma boa oração, tornam impossível um espírito de silêncio que a favoreça, e tornam também impossível o mesmo espírito de silêncio que é imprescindível à verdadeira atividade intelectual.
Então, no dia de hoje, eu Vos peço Senhor, que me ajude a rezar mais, e me ajude a não mais ler coisas levianamente, alimentando por uma "curiositas" que é mais uma concupiscência que qualquer outra coisa, e que embota a mente e torna a oração impossível. Ajuda-me, Senhor, a entrar nos eixos e fazer a Tua Vontade a todo momento. Tende misericórdia de mim, que sou tão pecador e inconstante!
Elias na carruagem de fogo, rumo aos céus, a voltar perto do Juízo
Nenhum comentário:
Postar um comentário